Bestiarum · Cineclube EA

Contacts

Cineclube 2020-21

Equipa do Cineclube EA 2020/21
Benjamim Gomes
Diogo Pinto
Eva Direito
Miguel Mesquita
Vasco Trabulo Bäuerle

com o apoio de
Carlos Natálio
Daniel Ribas

More Information

PROGRAMA

02 MAR 2021, 18h30 | ONLINE
Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens

de Friedrich Wilhelm Murnau
Alemanha, 1922, 94'

09 MAR 2021, 18h30 | ONLINE
La Belle et la bête

de Jean Cocteau
França, 1946, 96'

16 MAR 2021, 18h30 | ONLINE
Les yeux sans visage

de Georges Franju
França, 1960, 90'
+
L'oeil était dans la tombe et regardait Daney
de Chloé Galibert Laîné
França, 2017, 10'

23 MAR 2021, 18h30 | ONLINE
Rebecca

de Alfred Hitchcock
Estados Unidos da América, 1940, 130'
com a presença de Ricardo Vieira Lisboa

 

02 MAR 2021 - 23 MAR 2021
Programação de Miguel Mesquita

Do you think the dead come back and watch the living?

O embaraço em definir este ciclo, e este conjunto de filmes, parte da mesma dificuldade que se encontra ao querer definir o gótico. Da condescendência renascentista, que condenava o gótico a inimigo do clássico, e, por sua vez, o definia como ultrapassado, o termo acabaria por encontrar casa na literatura romântica, pela conotação de medievo que servia de novo contraponto, desta feita ao Iluminismo.

Gótico evoca retorno, precisamente o que Walpole ou Goethe desejavam, pela ânsia e nervo imposto pelo nascimento das estruturas capitalistas pelas quais tinham aversão - mesmo que se lhes possa apontar uma certa paternidade. Sobretudo com Walpole, pela sua desilusão, voltou-se (ou viu-se encaminhado por uma consciência onírica) para a Idade Média, dando à sua obra O Castelo de Otranto, o subtítulo Um Conto Gótico, romantizando assim o termo antes despojado, e conotando-o a um passado idealizado e fantasioso das trevas. Nesta obra definem-se também muitos dos princípios e tropos do género - cuja existência até hoje dura, com mais ou menos mutações.

Houve um esforço consciente para que a seleção agora apresentada não só demonstrasse com os seus títulos as principais destas convenções temático-narrativas, como também desse um exemplo de algumas das diferentes manifestações do gótico no cinema ao longo da sua história. Apesar de tudo, esta escolha sustém-se num limite muito reduzido, o que impossibilita um afastamento daquilo que é não mais que uma visão superficial do género cinemático, e que deixa de parte toda uma complexidade de criação exterior à esfera ocidental e, de certo modo, à corrente mainstream do meio.

Mas esta circunscrição ao imaginário Europeu (mesmo com Rebecca, um filme norte-americano) permite, porém, nova ponte com a dimensão literária do género, refletindo sobre a mesma. No prefácio da edição portuguesa do livro de Walpole, Manuel João Gomes identifica duas correntes independentes deste conjunto de obras que designa de “literaturas fantástico-frenéticas” do século XIX: uma de origem francesa, dos “oníricos-fantásticos”, e outra com génese em Inglaterra, das ficções de suspense e policiais. Nestes limites, Nosferatu e La belle et la bête teriam casa no primeiro bloco, e Les yeux sans visage e Rebecca no segundo.

Apoiando-me em palestras e entrevistas a Ian Christie e John Bowen, registei aquelas que considero ser as mais fulcrais características do género, e as que encontram maior repercussão na sua passagem para o cinema. A sua disposição em nada comenta a sua relevância, procurando remeter apenas para o alinhamento do ciclo.

Crise. O gótico nasce e reporta a momentos de falência política e social. Como atrás referido, o Iluminismo foi para muitas destas figuras um despoletador de dúvida e crise pessoal, tendo as primeiras manifestações escritas do gótico brotado dos seus fervores ansiosos. Naturalmente, estes autores traçariam paralelos com outros momentos históricos ao remeter os seus escritos para este medievo romantizado. Nosferatu, eine Symphonie des Grauens de F. W. Murnau, é exemplo perfeito disso mesmo, oferecendo nova perspetiva da pandemia bubónica, numa realidade distorcida pelo sobrenatural e superstição.

O sobrenatural e o real. A ramificação do género por Manuel Gomes anteriormente apresentada, diz também respeito às diferentes formas de tratamento do sobrenatural. Certas obras e autores abrem as portas a fenómenos e aparições transcendentes e extraordinárias, enquanto outras e outros apelam a uma racionalidade empírica, baseada em motivos palpáveis e reais, para os justificar. La belle et la bête de Jean Cocteau é um extremo das manifestações oníricas, sendo, contudo, uma aula de mise-en-scène e figuração através dos mais palpáveis dos recursos, desde a pose humana à arquitetura, atribuindo um surpreendente surrealismo à sua visualidade.

Histórias de vulnerabilidade. O género vive de um constante jogo de poder, fricções entre dominantes e dominados. Ponte com o modo melodramático, estas narrativas têm frequentemente protagonistas femininas, as quais se veem forçadas a situações nas quais não estão confortáveis, ou que inclusive desconsideram por completo, por força de alguém que as subjuga - hipotexto claro de comentário ao posicionamento da mulher nas estruturas sociais oitocentistas. O filme selecionado que melhor se adequa a esta característica, corresponde a Les yeux sans visage de Georges Franju, que será introduzido pelo filme ensaio de Chloé Galibert-Laîné, L'oeil était dans la tombe et regardait Daney.

Fantasmas. No seu sentido literal ou simbólico, a figura do fantasma é sintomática das contradições do gótico, sobretudo na sua relação com a temporalidade. O desejo de retorno a este passado idealizado leva a uma justaposição violenta entre dois mundos e dois tempos, em que o arcaico e distante permeia o moderno, irrompendo-o de forma violenta e conflituosa. Com Rebecca, de Alfred Hitchcock, o fantasma da anterior Mrs. de Winter não corresponde a esta ideia mitológica de espectro, mas a sua presença torna-se inevitável e pesa em todos os personagens do filme. Claramente o mais assente na realidade de todos os filmes selecionados, não deixa de ser uma representação pertinente do género cinematográfico.

Naturalmente, não se pretendem impor fronteiras estanques ao entendimento destes filmes, assumindo-se que esta distribuição poderia ser diferente, e que os vários exemplos partilham a maioria destas convenções.

Para concluir, esclareço o nome do ciclo. Com Bestiarum remeto, tal como os autores referidos, para a tradição medieval, dos compêndios moralizantes de criaturas mitológicas. Desenvolvo assim o meu próprio bestiário cinematográfico, com criaturas das mais viscerais às mais inocentes, não procurando, contudo, uma moral na sua exposição, mas sim unificar estas diferentes representações cinematográficas que, como se viu, fugiram da literatura para o cinema, saltando continuamente entre movimentos e eras.

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