Expurgar papel - Carla Filipe

Carla Filipe
Expurgar Papel
Curadoria: Nuno Crespo

Sala de Exposições da Escola das Artes
16 FEV – 15 MAR 2024
Entrada livre

 

“Preservação ou Eliminação do acto de cuspir“ (2021-2023)

Continuação de uma série de trabalhos intitulada por “Mastigar papel mastigado, o desejo compreender o velho continente para cuspir a sua história”, iniciada no ano de 2014 aquando da sua residência artística na Antuérpia (1). Partindo de documentação do séc. XVII ao séc. XX adquirida em alfarrabistas e mercados de segunda mão, onde inevitavelmente é incidente a esfera noticial e de pensamento em redor do colonialismo europeu, a artista intervém no arquivo criando uma nova leitura através de texto, promovendo um diálogo crítico. 
Para a Sala de Exposições da Escola das Artes, a artista trabalha somente em torno desta documentação, sem recorrer ao desenho ou pintura, usando apenas a colagem enquanto veículo e metodologia percorrendo as linhas ténues entre o respeito e o desrespeito do documento muitas vezes considerado uma “entidade imaculada”. Corta e cose documentos do séc. XVI até à modernidade (década de 70/período PREC) criando outros objectos e arquivos, arquivando toda a documentação em suportes que, entre jogos formais de frente e verso, suspensos e isolados, compõem uma instalação coletiva sob vários layers. A história do colonialismo que ainda perdura na Europa suspensa, toda a sua estrutura é frágil, sendo necessária o constante restauro e conservação. Na construção destas colagens a imaginação é uma constante, a imaginação que vem na ação de combinação de ideias, manipulação de conteúdos, usando o humor, o drama, a realidade. Todos os elementos usados para as colagens são frágeis, onde tudo é informação, desde os vários tipos de papéis usados, desde jornais, notas ou papel de fantasia. 
Através do papel temos igualmente representada a revolução industrial, onde o papel tem outra manufatura, que distingue a sua durabilidade enquanto documento, sendo o elemento mais contemporâneo a introdução do cabelo, que também é arquivo (ADN).
A inclusão do cabelo relaciona o trabalho com o corpo, que também é um “arquivo”, fazendo ligação ao próprio título “mastigar” e “cuspir”; o acto de mastigar é também um acto de mascar, criando saliva misturada com a matéria sem engolir, é triturar toda a documentação entre os dentes, e cuspir este arquivo sem organização, sem categorias e sem preservação. 
Seguindo a mesma ideia de repulsa, temos igualmente o “escarro” devido à inalação do pó desta documentação que acumula e necessitamos de expurgar (para não ficarmos contaminados: limpeza). Como se a artista quisesse adquirir todo a documentação possível e mastigar tudo para um novo início, através de uma ação de repulsa e de libertação transformando toda a matéria que é expulsa da sua boca numa espécie de cola que fica peganhenta na superfície.
Tomando consciência de que o arquivo é colonizador.


(1) Air Antwerp, Bélgica co-colaboração com a Kunsthalle Lissabon, Portugal
 

Carla Filipe
 

 

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