A unidade curricular de Linguagens de Computador tem como objetivo cimeiro a
introdução à programação computacional enquanto ferramenta, metodologia e espaço de discussão no âmbito da investigação e produção artística. Desse modo, partindo de preceitos distintos daqueles que lhe são tradicionalmente habituais e que partem de outras áreas de produção de conhecimento como a engenharia, a ciência dos computadores e a matemática, a abordagem à programação delineada pela disciplina pretende que a mesma, salvaguardando a sua estruturação e rigor lógico, se apresente enquanto veículo formal de materialização capaz de albergar em modo sincrético o discurso artístico contemporâneo plasmado na subjetividade individual dos discentes.
Desse modo, face às metodologias de ensino usuais reservadas à programação, a lecionação da mesma será feita de forma reversa, contornando num momento inicial os seus mecanismos internos e o seu cerne alfanumérico, procurando estabelecer um contacto inicial com os resultados materiais — sonoros, visuais, diagramáticos, textuais — sintetizados, iniciando-se a partir desse momento uma desconstrução dos processos internos que sustentam e viabilizam os objetos produzidos — abordagem top down —, seguindo-se então um processo construtivo, onde a causalidade entre código e objeto se manifesta de forma sequencial.
Esta abordagem pretende usufruir da literacia visual e aural dos discentes enquanto ponto de partida para a compreensão dos sistemas e fluxos de informação subjacentes à programação e à algoritmia, garantindo contudo, o domínio das ferramentas e processos em questão e não apenas um conhecimento superficial dos mesmos. Assim, rejeitando de forma clara uma metodologia que se dirija primeiramente à programação através de um prisma exclusivamente técnico — sublinhando elementos abstratos em detrimento da sua causalidade —; e simultaneamente recusando uma abordagem baseada na alteração, manipulação e reapropriação de código existente, a arquitetura desta unidade curricular procura utilizar a descrição oral, gráfica, visual de problemas concretos enquanto ponto de partida para a sua desconstrução em linguagens computacionais, fazendo sempre que possível o uso do desenho, do movimento, da desconstrução geométrica e cromática de obras arte enquanto ferramentas de acesso aos conteúdos lecionado.
Por fim, a unidade curricular em questão tem como objetivo alargar o espectro de compreensão da programação, transbordando a sua categoria ortodoxa que a define enquanto metodologia de produção de programas, aplicações e jogos.
Neste contexto a programação é entendida enquanto metodologia de organização de pensamento; plataforma de teste, especulação e simulação; enquanto mais um instrumento disponível na produção artística contemporânea — que na realidade, não necessita sequer de estar visível ou patente em resultados finais —; e, por fim, enquanto protocolo de invasão.
