09 ABR 2024 - 30 ABR 2024, 18:30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
Ciclo Cinema e Arquitetura - Luz, Espelho e Percurso
Cinema e Arquitetura - Luz, Espelho e Percurso
Este ciclo propõe a ligação entre o cinema e a arquitetura. Duas matérias que, apesar de se concretizarem em meios diferentes, se cruzam em muitos pontos, manifestando-se um ao outro nos seus meios.
A procura da relação e entendimento do que é transversal ao cinema e à arquitetura é proposto, neste caso, através de uma análise e procura mais particular na ligação entre os dois.
Dividido em três diferentes subtemas - luz, espelho e percurso - a articulação feita, procura explorar a semelhante relação que ambos têm perante estes diferentes objetos.
A luz manifesta-se na presença do espaço. Na conceção de um edifício, a luz solar é tida em conta como um ser que se impõe no espaço e o preenche. Os diferentes momentos do dia estão presentes neste pensamento e nas aberturas que o constituem - onde estará o sol e como, penetrando, se apresenta. Este pensamento procura, também, ver aquilo de que quer tirar partido, no sentido em que a luz confere diferentes leituras e ambientes consoante é trabalhada. Paralelamente, se olharmos para o cinema, a forma como a iluminação é pensada e tida em conta, desempenha o mesmo papel. Quer num trabalho de luz mais artificial, quer num trabalho de luz mais natural, como é o caso do Ratcatcher de Lynne Ramsay - filme que acompanha o primeiro objeto de relação do ciclo - o espaço cinemático também conta as suas histórias e cria os seus mundos no pensamento e concretização do trabalho de luz. Em Ratcatcher o interior é tão representado pelo que o complementa, como a luz que por ele entra. Num espaço complexo e cinzento, a luz que penetra parece contar outra coisa, ao mesmo tempo que alimenta a ideia de um lar inóspito.
O espelho orienta-se para um trabalho de profundidade, reflexão e simetria. Uma casa é um espelho dela mesma e as suas simetrias refletem esta duplicação. Em Espelho Mágico de Manoel de Oliveira, muito do espaço que vemos chega-nos refletido e é através deste reflexo que compreendemos a sua espacialidade. O uso do espelho, não só intensifica a multiplicação das reflexões, como dá mais profundidade ao espaço que se observa. No cinema, para além da profundidade, o jogo do campo contra campo é igualmente trabalhado através dos espelhos, juntando o espaço paralelo no seu concreto e reflexo, com o cruzamento que o olhar indireto e o diálogo nos dão, e a profundidade espacial. Neste sentido o espelhado reside não só no seu propósito preciso, mas também na ideia abstrata do próprio espaço como espelho de si mesmo.
A ideia de percurso nasce de um texto de Serguei Eisenstein sobre a Acrópole e o caminho que por ela se percorre, caminho este que sendo espacial é igualmente cinematográfico, na forma como um corpo e a própria câmara o percorrem. Mon Oncle de Jacques Tati, entre outros aspetos da arquitetura, trabalha esta ideia do percurso num tom cómico e satírico, ligando-o à modernidade. Num jogo entre a comédia física e o espaço, que Monsieur Hulot percorre na casa da sua irmã, Tati crítica a vida moderna e o pulsionar da modernidade, que tanto para a personagem, como para o autor são totalmente desnecessários. Desde o passeio que se inicia no portão até à porta de entrada, ou aquele que continua pelo jardim, até ao percorrer por entre o espaço habitacional, a vida moderna é um caos. O percurso arquitetónico, complementado pelo percurso cinematográfico, evidencia-se ao mesmo tempo que “goza” com os novos tempos.
Ao longo do ciclo vamos percorrer três diferentes espaços, que se manifestam na sua arquitetura de modo distinto. Da habitação social, ao desenvolvimento moderno da urbanização, passando pelo espaço aristocrático, vemos que o objeto evidenciado, da sua relação entre o cinema e a arquitetura, aos seus espaços muito pertence.
(Sofia Tavares, aluna de Licenciatura em Cinema e programadora do ciclo)