> 12Abr · Der Tod Der Maria Malibran
12/04/2022, 18h30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
DER TOD DER MARIA MALIBRAN
de Werner Schroeter
Alemanha Ocidental, 1972, 104'
Sinopse
Folha de sala
“Desenho de Luz, Destino de Luz”
Por Filipe Silva (músico)
Para Maria Malibran e Candy Darling
As cloacas beijam-se, como bocas destinadas
A tocarem-se sempre “apenas” ao de leve,
À lenta e brilhante velocidade
Do teatro Kabuki
Em travessia e circum-navegação de géneros macho, fêmea, outros,
Comprando espanto em troca de bom-senso (Mowlana Jalaluddin Rumi).
Vozes dissociadas das bocas,
Num espaço-tempo-texto paralelo,
Como nuvens que temporariamente se cobrem, mutuamente.
“Cada objecto obscurece outro.” (Luis Buñuel)
Seres vivos e vivas como estátuas de cera que conspiram,
Cantando para dentro de bocas recíprocas,
Como no Ártico antes da Vinda de Cristo.
Seres vivas e vivos como marionetes de sombra
No ponto de fuga do palco.
O Sol é o desenho de luz, o Sol e a Sombra e a Louca.
A Louca desfolhada, numa matilha de hienas de uma só.
Louca de Compaixão e Relatividade,
E orgulho no seu Segredo.
Mas o desenho de luz, o destino de luz,
Torna-se Aura e bruma,
E o espaço entre bocas é infinitesimal,
E é, todavia, Espaço e Tempo.
As lágrimas transmutam-se em suor que se transmuta
Em pérolas de cera que derrete.
A Manhattan medieval (Brian Eno) reencarna em Candy Darling,
Negra, sobre o céu metalizado da sua vida anterior,
E o Mar espelha-se no Céu.
O tempo estático do Kabuki, inscrito na estática
De um cilindro de cera – Fantasmas Instantâneos.
O Céu é um Mar revolto, e teia de desenhos de luz,
E cúpula de cópulas ténues neste palco
De teatro em celulóide.
A moldura é virada de lado, e as estátuas de cera adormecem,
Enfim sós, ao fundo o horizonte enfim horizontal.
Mas para algumas, num destino colectivamente rotativo,
É a luz das campas-ventre de Samuel Beckett
Que lhes encandeia os olhos fechados.
Mas quando se abrem os olhos-campas-ventre,
São aranhas de jade, e a soprano sobe a parada, e a soprano sopra, parada.
O Amor chega num toque de linhas de palmas de mãos analgésicas,
Que remendam as Asas quebradas, e todos os cromossomas.
E quando, num súbito artifício tão natural quanto Kabuki germânico,
Tudo se torna pausa,
O destino de luz recomeça:
As bocas beijam-se, como cloacas destinadas
À morte final de um desenho de luz cujo destino é
Que não tem fim.
Quanto à História, essa, é escrita pelos vencedores.
E fica por escrever.
Gratia: Benjamim Gomes, D. Emília, Dina Gomes, Júlio Mendes Rodrigo, Angus MacLise.