Presente Permanente · Cineclube EA

Contactos

Cineclube 2022-23

Equipa do Cineclube EA 2020/21

 

Benjamim Gomes

Diogo Pinto

Francisca Dores

João Pinto

Leonardo Polita

Luísa Alegre

Luiz Manso

Maria Miguel

Mariana Machado

Miguel Ribeiro

Miguel Mesquita

 

com o apoio

Carlos Natálio

Mais Informações

PROGRAMA

14 MAR 2023, 18h30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
Kanashimi no Beradonna / Beladona 
de Eiichi Yamamoto
Japão, 1973, 86'

Baseado na novela de Jules Michelet, La Sorcière, este é um filme de trauma e vingança. Uma jovem é violada no dia de casamento e apenas um pacto com o Diabo vai permitir acertar contas com o passado traumático.

21 MAR 2023, 18h30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
Pâfekuto burû / Perfect Blue 
de Satoshi Kon
Japão, 1997, 81'

Mima Kirigoe, ídola pop, decide deixar a sua carreira na música pop para se dedicar à representação. Mas as suas novas escolhas revelam-se difíceis, num caminho entre a fantasia e a realidade.

14 MAR 2023 - 21 MAR 2023

Programação de Diogo Pinto

llusions can’t come to life

O termo trauma tem origem na Grécia Antiga, sendo utilizado, à época, como sinónimo de “chaga”, remetendo para lesões físicas. Hoje em dia, refere-se a uma lesão física grave, normalmente prolongada ou podendo levar à morte, sendo causada por um determinado fator externo. Simultaneamente, é utilizado num sentido mais lato, definindo-se o trauma psicológico como dor emocional ou choque particularmente graves ou duradouros, sendo estes causados por um evento extremamente perturbador.

As personagens dos filmes que compõem este programa veem a sua existência invariavelmente alterada por eventos perturbadores. O seu comportamento é toldado pelo trauma, as suas ações são manifestação de um desejo desesperado de regresso à normalidade. 

Em Belladonna of Sadness, a aldeã Jeanne é violada no dia do seu casamento pelo Senhor do castelo. Incapaz de segurar os cacos do seu estado mental e assombrada pelo trauma, sucumbe a um pacto com o Diabo, que lhe concede poderes mágicos para ajustar contas com o seu passado. A partir do momento em que Jeanne se torna uma bruxa, o filme adota uma linguagem caleidoscópica e surrealista. E, tal como sucede com o espectador, talvez nem Jeanne saiba o que é real e o que é fantasia na sua resposta ao trauma.

Este deslocamento acompanha também a protagonista de Perfect Blue, Mima Kirigoe. Com efeito, é comum, como reação ao trauma, a adoção de uma temporalidade baseada na repetição e na dificuldade em assimilar uma cronologia. Não é possível inteligir um passado, nem um futuro. A vítima pode estar, então, condenada a um presente permanente, conceito que escolhemos para dar título a este programa. 

Mas, durante o sono, o trauma ressurge, sem as barreiras impostas pela consciência (“os sonhos atualizam os acontecimentos traumáticos”[1]). O filme espelha a importância do estado de vigília na discussão sobre ao trauma ao tornar-se, ele próprio, uma espécie de sonho febril. Mima, e o espectador, vão perdendo o discernimento do real, oscilando entre a verdade e a fantasia, vagueando por repetições e ilusões que espelham o estado mental da protagonista. O seu presente permanente é cada vez mais alucinatório.

E se, em Perfect Blue, a resposta ao trauma é o onirismo, podemos também afirmar que a causa do mesmo é marcada pelo estranhamento. Mima ultrapassa várias experiências, cada vez mais perturbadoras, ancoradas na realidade, mas aquela com o maior peso no seu cada vez mais instável estado mental é meramente a encenação de uma experiência traumática. Visando manter os pés em terra firme, Mima relembra um mantra tranquilizador: “illusions can’t come to life”. 

É certo que o fator perturbador externo nem sempre retorna ou está presente, mas a sua marca permanece indelével na psique destes personagens. A pressão sobre Jeanne e Mima é tal que a reação terá sempre que ser violenta. Isto se acreditarmos que a reação não é ilusória.

 

[1]  Klautau, P., et. al. (2016) – Do Traumático ao Trauma. Psicologia em Revista, 22, 3.

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14 MAR 2023, 18h30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
Kanashimi no Beradonna / Beladona 
de Eiichi Yamamoto
Japão, 1973, 86'

Baseado na novela de Jules Michelet, La Sorcière, este é um filme de trauma e vingança. Uma jovem é violada no dia de casamento e apenas um pacto com o Diabo vai permitir acertar contas com o passado traumático.

21 MAR 2023, 18h30 | AUDITÓRIO ILÍDIO PINHO
Pâfekuto burû / Perfect Blue 
de Satoshi Kon
Japão, 1997, 81'

Mima Kirigoe, ídola pop, decide deixar a sua carreira na música pop para se dedicar à representação. Mas as suas novas escolhas revelam-se difíceis, num caminho entre a fantasia e a realidade.

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