O CITAR cresceu entre 2018 e 2023 e projeta o futuro próximo como um período de consolidação das suas linhas de investigação e atividades. Simultaneamente, visa dar um passo além, adaptando os seus princípios à luz dos mais recentes desafios tecnológicos e epistemológicos. O plano estratégico para os próximos cinco anos assenta, assim, numa visão central estruturada em quatro princípios orientadores, que irão aprofundar e expandir a investigação do Centro. A partir destes princípios, emergirão objetivos gerais e um plano de atividades.
• Práticas artísticas – investigação, criação e conservação
Como ponto de partida, entendemos a prática artística como um processo de investigação artística e uma ferramenta de produção de conhecimento. A investigação artística é assim fundamental para compreender o processo de investigação e produção de obras de arte no âmbito da agência do artista. Neste contexto, a investigação artística pode ser entendida através do trabalho artístico deste artista (investigação-ação) e do lugar do investigador nestas práticas (investigação dos processos e modos de produção). Finalmente, no âmbito do conhecimento interdisciplinar, promovemos a compreensão das dimensões conceptuais, performativas, materiais e documentais das obras de arte e da sua complexidade cultural, de acordo com as epistemologias da conservação-restauro.
• Método e tecnologia de práticas artísticas e de conservação
No domínio da produção artística, e num Centro que a interpreta também como uma prática tecnológica, pretendemos explorar o potencial proporcionado pelo desenvolvimento de novas ferramentas de produção, investigação de materiais e modelos tecnológicos. A nossa abordagem pós-disciplinar reflete sobre as possibilidades de intersecção entre arte, ciência e tecnologia, num contexto de investigação onde se discutem e analisam métodos, técnicas, tecnologias e suportes artísticos que incluem creative data, tecnologias de fabrico laboratorial e ambientes imersivos e aumentados. Será dada especial ênfase à urgência da IA no contexto destas tecnologias emergentes, explorando conceitos de cocriação homem-máquina e o debate sobre as implicações éticas e os riscos associados a estas tecnologias e ferramentas. No mesmo contexto, pretende-se investigar o desenvolvimento e a adaptação de tecnologias digitais avançadas para catalogar, documentar, monitorizar e experimentar modelos (arquivos digitais, modelação 3D, restauro virtual e aplicações de RV), refletir sobre a obsolescência material e tecnológica e estudar a materialidade das obras, a sua evolução e relação com fatores ambientais, urbanos e societais.
• Investigação curatorial como prática crítica
Paralelamente à prática artística, a investigação curatorial surge como um processo de compreensão crítica de fenómenos históricos e/ou atuais do campo artístico (cinema, artes visuais, arte sonora, new media art, fotografia) e dos discursos por eles produzidos (ecologia, pensamento decolonial, novas ontologias e epistemologias, comunidade, questionamento dos novos humanismos digitais). Enquanto investigação e prática, a atividade curatorial procura compreender as ligações entre estes fenómenos e o pensamento crítico, com relevância para as mudanças tecnológicas e para a discussão da ontologia destes fenómenos em contextos artísticos. Por outro lado, importa também definir e operacionalizar os modos de relação entre a obra de arte e os públicos inerentes ao conceito de curadoria, quer na organização e modos de receção de obras artísticas, quer no diálogo com a comunidade de espectadores, quer no impacto da atividade curatorial no cruzamento com as práticas de documentação e conservação de obras de arte. Consideramos também crucial a análise crítica do fenómeno da IA como modelo de compreensão do mundo e das práticas artísticas.
• Sustentabilidade e impacto dos objetos e processos artísticos
Se a produção artística se relaciona com a(s) realidade(s) a partir de perspetivas críticas que visam a produção de conhecimento, a sua investigação, criação e conservação devem também considerar o impacto que a arte gera na sociedade e a sustentabilidade dos seus objetos e processos. Ao compreender as alterações provocadas pelas mudanças climáticas, é importante pesquisar modelos de prática artística sustentável e de conservação verde e sustentável (práticas preventivas e tecnologias verdes). Os modelos de gestão dos modos de produção artística (indústrias culturais e criativas) também abordarão a sustentabilidade. A compreensão dos fenómenos de receção artística culminará na prática artística e na curadoria, promovendo políticas de reflexão sobre as nossas comunidades. Neste paradigma, a investigação da intervenção artística no contexto da educação visa o desenvolvimento de (novos) públicos, a sustentabilidade das comunidades e regiões, a promoção da diversidade e da empatia. O encontro artístico será uma oportunidade para estimular a cidadania participativa e os espaços culturais públicos, no que diz respeito à gestão do património e à tomada de decisões em matéria de conservação e restauro.
