A noção de interface e interatividade jaz no cerne da possibilidade de mundo. A
possibilidade de delinear uma relação de inteligibilidade com um objeto, ou mesmo
com o Outro, expressa por um modo de uso, de instrumentalização, de acesso ou
simplesmente de compreensão, pressupõe, logo à partida, não só a possibilidade mas a obrigatoriedade da presença de um interface e da interatividade que o mesmo encerra.
Nesse sentido, e na sua manifestação mais primária e estrutural, a construção de um interface dá-se quando um qualquer objeto — objeto no sentido lato, enquanto um elemento passível de ser distinguido de outros — é alvo de uma apreciação ou utilização protocolar, onde os seus traços e características encontram ressonância e causalidade nos os traços e características do agente que o manipula e observa. Por conseguinte, neste mesmo registo estrutural, este fluxo bidirecional de ressonâncias e causalidade definem um espaço elementar de interação, onde objetos/agentes constroem e são construídos mutuamente.
É a partir deste processo e observação e construção de mundo que, por exemplo, uma pedra, manifestando as suas características formais e materiais, e as possibilidades que tais qualidades podem assumir quando operadas através da mão humana, se torna — mesmo sem ter sido alterada fisicamente — num martelo ou numa arma. Desse modo, interface e interatividade definem-se neste protocolo tático onde duas entidades — face a face — celebram alianças de colaboração, num ato onde as forças dos sistemas materiais comandam o ato de pensar como se tivessem sido forças do pensamento desde sempre.
A este fenómeno fundacional adiciona-se um percurso histórico, cultural e social,
pautado pelas capacidades de manipulação humana, de refinamento e ampliação dos infindáveis métodos de acesso ao e construção de mundo.
Partindo desta visão alargada de interface e interatividade, a unidade curricular de
Interfaces Interativos pretende traçar um percurso de investigação, exploração e
desenvolvimento investido na construção de objetos/instrumentos/ferramentas que
sublinhem e tornem claramente palpáveis as dinâmicas de interação, colaboração e
mutua construção entre humano e objeto. Este percurso não pressupõe uma exploração limitada a materiais físicos — madeiras, metais, etc… —, ou digitais, mas o firmar de alianças entre estes dois domínios através da computação física, ou seja, através de uma integração circular de objetos e possibilidades pertencentes as estes dois domínios.
Consequentemente, no seu cerne, a unidade curricular, explorado a ubiquidade do
diálogo homem—instrumento, pretende provocar uma reavaliação dos limites que
separam estes dois domínios — digital e físico. Se por um lado os dispositivos digitais descrevem uma clara aproximação, e talvez até invasão, dos limites do físico, por outro, é latente uma intenção generalizada em projetar o físico para lá das suas próprias limitações fisiológicas. Nesse sentido, interface e interação são pontos pivotais na discussão, e construção, da condição futura dos humanos e seus instrumentos.
Interfaces Interativos
5 ECTS / Semestral / Inglês, Português