13 JUN · 18:30 · entrada livre
Auditório Ilídio Pinho
Ciclo Overcoming the forms of the outer world - parte 2
Programa com escolhas de Matthew C. Wilson, artista em residência na Escola de Artes em 2023, realizado em parceria com o programa InResidence da Câmara Municipal do Porto.
Programa 2
No poema "Burnt Norton" de T. S. Eliot, um pássaro diz "a humanidade / Não pode suportar muita realidade". Para se sustentar sob o peso do mundo, a mente humana desenvolveu meios diversos - da mitologia à matemática - para mediar seus encontros, alterando e gerando agências materiais e imateriais no processo. O cinema também participa desse comércio de mediação. A tarefa de separar o que é sinal do que é ruído, o que é percebido do que é projetado, e o que é inerente do que é construído pode às vezes parecer uma missão impossível. No entanto, num lugar onde a audiência permite que seus sentidos sejam enganados, o cinema é justamente o local para tal meditação. Neste programa de filmes, a mente flui para outros recipientes, profundezas são sondadas, e um mar de agências — ambas alienígenas e familiares, se frequentemente esquecidas — dentro e fora subjugam os espectadores.
Grains of Truth a chapter from ADINA - Emilia Tapprest (NVISIBLE.STUDIO)
Earthquakes (2017) - Maya Watanabe
VUCCA (2016) - Carlos Casas
Aphotic Zone (2022) - Emilija Škarnulytė
The Unmanned - 1953 - The Outlawed (2018) - Fabien Giraud & Raphaël Siboni
nimiia cétiï (2018) - Jenna Sutela
Black Cloud 黑云 (2021) - Lawrence Lek
Grains of Truth a chapter from ADINA - Emilia Tapprest (NVISIBLE.STUDIO)
Vemos um homem com uma mão ligada situado num espaço metafísico tornado material. Um som maquínico, rítmico, abranda e o som estridente corta, periodicamente, o ar, à medida que risca fósforos, observando a transformação dos químicos e da madeira em brilho, chama, fogo e restos carbonizados. Através de uma série de reflexões e refrações como num túnel translúcido, testemunhamos algo entre o ennui prometeico e o niilismo ritualizado. Isto é, contudo, apenas uma fase do desenvolvimento de Adina – a personagem principal de uma série maior de curtas metragens centradas à volta da ideia de ‘recorrência eterna’. Adina, a principal personagem da série, luta contra o medo de que a sua vida seja determinada pela repetição mecânica dos mesmos padrões uma e outra vez, com um sucesso idêntico de esperanças, medos, enganos e redenções. Música original de Tarawangsawelas interpretada por Andrei Iovcev.
Earthquakes (2017) - Maya Watanabe
Originalmente concebido como uma instalação vídeo com dois canais, apresenta-se aqui um deles. Uma paisagem surge no centro de um teatro japonês vazio. Sem intervenção humana, são magicamente despoletados uma série de eventos disruptivos. Os desastres não naturais precipitam a cenografia ao colapso. À medida que o vídeo continua, os restos dos adereços aparecem, de forma inexplicável, recompostos outra vez. O lenta e controlado registo de eventos é – como o passar do tempo na obra – circular. De acordo com a mitologia japonesa, terramotos são causados pela destruição de Namazu – um peixe-gato gigante que vive debaixo das ilhas japonesas. Um sentido de objetividade, distância e controlo parecem conjurar eventos catastróficos. O vídeo pode ser visto como metáfora para eventos radicais que podem perturbar a vida.
VUCCA (2016) - Carlos Casas
VUCCA leva o público a uma profunda exploração da memória, geografia, e ao eu, centrado nas figuras em torno de gruta de Vucca de lu Puzzu em Itália. Durante uma residência destinada a compreender terrenos extremos, Casas teve uma experiência de quase morte e perdeu a consciência nesta gruta, levando-o a uma contemplação da vida, do tempo e da natureza metafísica e física do ser. Esta experiência permanece no centro do filme. Gravações sonoras no local dão-nos uma profundidade de audição, amplificando o sentido de uma exploração existencial. Como nos explica Casas: “Vucca exemplifica de certa maneira uma maravilha natural que se liga com as nossas memórias e relações mais ancestrais, eu vejo Vucca como um filme interior, como um leve espetáculo de imagens interiores, ou como um espetáculo de uma quase morta platónica, mas vucca representa para mim um renascimento a meio da vida, um trauma, que me conecta com o extremo do meu conhecimento da morte, o mais perto que estarei do meu próprio túmulo. Um incrível mausoléu natural.”
Aphotic Zone (2022) - Emilija Škarnulytė
Com poesia e a ajuda de cientistas (de físicos nucleares a biólogos marinhos), sonhamos através de mitologias em mundos para lá da escala humana, mas que contudo ainda afetam a nossa presença. O novo filme Aphotic Zone mergulha a 4 km de profundidade no golfo do México onde os cientistas marinhos da Universidade Philiadelphia’s Temple estão a tentar encontrar uma espécie de super coral que pode viver debaixo da acidificação e aquecimento dos mares, provocada pelos seres humanos. Com uma mistura de som dos engenheiros oscarizados Jaime Baksht e Michelle Couttolenc, o som foi registado em agosto de 2021, nas ruínas Aztecas no coração da cidade do México, no 500º aniversário da queda de Tenochtitlan. Os horrores do colonialismo e a destruição ecológica global causada pela poluição industrial interlaçam uma subtil meditação acerca da possibilidade de sobreviver à fúria da ganância humana. Obra comissariada e produzida pela Fondazione In Between Art Film para a exposição Penumbra.
The Unmanned - 1953 - The Outlawed (2018) - Fabien Giraud & Raphaël Siboni
O terceiro episódio da série The Unmanned, replicando a estrutura de montagem de 1834 – La Mémoire de Masse, The Outlawed tem lugar em agosto de 1953 na ilha de Corfu, na Grécia, no resort Clube Méditerranée onde Alain Turing passou o último Verão. Numa tarde solarenga, o matemático e inventor do computador moderno, sujeito a tratamento hormonal depois de ser condenado pela sua homossexualidade, embarca numa jangada improvisada para estudar a morfogénese de organismos marinos. À medida que explora a costa, a jangada afasta-se progressivamente. Na ausência de terra, perdida no mar, uma cena desenvolve-se debaixo de terra.
nimiia cétiï (2018) - Jenna Sutela
Inspirado em experiências de comunicação interespécies e aspirando a conectar com o mundo com o mundo para além da nossa consciência, nimiia cétiï documenta as interacções entre uma rede neural, gravações de áudio de uma linguagem marciana, e imagens de movimentos de bactérias extremófilas. Aqui, o conteúdo é um médium, canalizando mensagens de entidades que usualmente não podem falar. Contudo, e também um alien da nossa criação. nimiia cétiï foi criado em colaboração com Memo Akten e Damien Henry como parte de n-dimensões, um programa de residência artística Google Arts & Culture no Somerset House Studios.
Black Cloud 黑云 (2021) - Lawrence Lek
Black Cloud continua o universo 'Sinofuturista' de Lawrence Lek, no qual explora questões de identidade, vigilância e empatia na era da inteligência artificial. O filme expande a estética de videogame característica de Lek para novos territórios cinematográficos, combinando uma paisagem urbana fantasmagórica com uma banda sonora eletrónica evocativa, produzida com o seu colaborador de longo prazo Kode9.
A curta-metragem é a primeira de uma nova série de obras do artista ambientadas nas ruínas futurísticas de uma cidade inteligente. Ambientado num futuro próximo não especificado, Black Cloud conta a história de uma IA de vigilância solitária na cidade abandonada de SimBeijing, uma réplica da capital da China construída pelo conglomerado de tecnologia Farsight para testar carros autónomos. Depois de Black Cloud cumprir cegamente a sua tarefa de relatar acidentes, a IA desperta para o fato de que sua obediência levou ao banimento de todas as outras IA, deixando a metrópole deserta. Procurando consolo e resolução para as suas aspirações não realizadas, Black Cloud inicia um diálogo com Guanyin - um programa de terapia de autoajuda criado pela Farsight para aliviar o sofrimento em seus produtos. Nem tudo é o que parece na cidade inteligente. Ao longo de seu diálogo, a IA revela as razões obscuras por detrás do abandono da cidade.