"Enciclopédia Negra", exposição com curadoria de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, apresenta 104 retratos produzidos por 36 artistas contemporâneos de personalidades negras que moldaram a cultura, a sociedade e a história brasileiras. Pela primeira vez fora do Brasil, a exposição tem profunda relevância enquanto gesto crítico de recuperação histórica ao destacar figuras negras que foram marginalizadas ou omitidas das principais narrativas históricas, denunciando o racismo e branqueamento continuado a que foram sujeitas. O programa educativo da Escola das Artes organiza iniciativas interdisciplinares onde, a partir do encontro com diversas práticas artísticas, se promovem aprendizagens históricas e culturais justas e integradoras.
Atividade #0
Conversa com Marta Lança e Maria Coutinho
Diálogos sobre a representação histórica de negros: a renovação artística e historiográfica a partir de Enciclopédia Negra e o lugar da pedagogia e educação.
24 SET · 15:00 · Auditório Ilídio Pinho
"Enciclopédia Negra", exposição com curadoria de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, procura elevar o contributo e importância de diversas personalidades negras na história do Brasil. A mostra acolhe o título do projecto que lhe esteve na origem e que reuniu em livro – organizadas por núcleos temáticos –[1], biografias da vida e do legado de mais de 550 personalidades negras (em 416 entradas individuais e coletivas) que moldaram a cultura, a sociedade e a história brasileiras.
Contudo, a grande maioria, precisamente pela negritude, viu a sua vida e imagem ou apagada ou não registada de todo. Assim, visando a sua inscrição histórica, designadamente na cultura visual brasileira, o projecto concebeu a possibilidade de desenhar uma exposição convidando 36 artistas contemporâneos[2] a produzir retratos dos biografados. Aos artistas, como ponto de partida, foi apresentado o resultado de uma meticulosa investigação sobre as histórias e contributos de diversos indivíduos e colectivos.
A exposição reúne um conjunto diversificado de 104 expressões artísticas, incluindo pinturas, esculturas, fotografias e instalações com diversos media. Uma diversidade que providencia um retrato único da arte contemporânea no Brasil, enquanto acolhe possibilidades novas e inventivas de transmitir memória, história e herança, até muito recentemente resistente a modalidades criativas entendidas como prerrogativa exclusiva da arte.
Criar um rosto a partir de uma biografia não é apenas documentar, registar e inscrever a vida de inúmeros (serão, na verdade, milhares) de negros que participaram activamente na construção da história e da cultura do Brasil. É dá-los a ver precipitando o reconhecimento da sua existência e agenciamento. É deixar que uma pós-vida possa acontecer no imaginário de cada um dos visitantes e finalmente laborar numa nova e urgente memória colectiva que pode inspirar mudanças sociais na luta pela igualdade racial e pela justiça social, inspirando gerações mais jovens.
Pela primeira vez fora do Brasil, a exposição tem, pois, profunda relevância curatorial e grande impacto público, na medida em que se afirma como um gesto crítico de recuperação histórica. Ao destacar figuras negras que foram marginalizadas ou omitidas das principais narrativas históricas, afronta lacunas historiográficas e denuncia o racismo e branqueamento continuado a que foram sujeitas. Ao mesmo tempo, incentiva a uma nova aprendizagem, oferecendo uma compreensão mais rica e matizada de uma história que não pode ser apropriada por narrativas dominantes e unificadoras.
De resto, a natureza interdisciplinar da exposição, combinando arte, história e problematização social, reflete uma tendência curatorial recente que quebra com os lugares-comuns a que cada um dos campos estava votado. Permite, para mais, que as instituições modernas fundadoras das histórias e narrativas visuais dominantes se questionem a partir de dentro, encontrando no diálogo e reflexão de questões contemporâneas – raça, desigualdade e consciência social, entre outras – uma das suas principais vocações.
[1] 6 núcleos temáticos: Rebeldes; Personagens atlânticos; Protagonistas negras; Artes e ofícios; Projetos de liberdade; e Religiosidades e ancestralidades.
[2] Artistas: Amilton Santos, Antonio Obá, Andressa Monique, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Bruno Baptistelli, Castiel Vitorino, Dalton Paula, Daniel Lima, Desali, Elian Almeida, Hariel Revignet, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun, Jackeline Romio, Jaime Lauriano, Juliana dos Santos, Kerolayne Kemblim, Kika Carvalho, Lidia Lisboa, Marcelo D’Salete, Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino,Michel Cena, Moisés Patricio, Mônica Ventura, Mulambö, Nadia Taquary, Nathalia Ferreira, Oga Mendonça, Panmela Castro, Rebeca Carapiá, Renata Felinto, Rodrigo Bueno, Sonia Gomes e Tiago Sant’Ana.