Porto Summer School on Cinematic Art: um balanço
Os novos percursos do cinema contemporâneo
Durante uma semana, a Escola das Artes foi palco da Summer School on Cinematic Art. Estiveram no Porto, seis realizadores e seis críticos e curadores para workshops, conversas, e projeções de filmes. Foi uma semana intensiva de debates sobre o gesto artístico, tanto em contexto de criação para a sala de cinema, como para o espaço de galeria. Esta contaminação entre o cinema e as artes visuais foi determinante para o conceito pedagógico dos diferentes workshops.
Para assinalar esta duplicidade, foram incluídos no programa aberto tanto sessões de cinema - sempre comentadas pelos respetivos realizadores - como a abertura de duas exposições. A de Salomé Lamas, intitulada “Auto-Retrato”, ocupou a sala de exposições da Escola das Artes e está patente até dia 28 de setembro. “The Serenity of Madness”, de Apichatpong Weerasethakul, é uma exposição do Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory. Ambas estão ainda abertas para visitas.
O balanço dos workshops e das sessões públicas não podia ser melhor. Recorrendo a diferentes táticas e métodos - entre os quais: o desenho, a meditação ou a filmagem do início de uma história - os participantes viveram um clima de experimentação e criatividade, discutindo referências e propostas criativas. O trabalho próximo entre os artistas e os participantes foi também uma chave de sucesso, com uma interação informal e potenciadora do próprio percurso dos jovens artistas.
Entre os mais diversos métodos, ficaram na retina, durante estes dias, as propostas dos diferentes artistas e realizadores: Apichatpong Weerasethakul mostrou-nos como o sonho e a livre associação são importantes para desbloquear o nosso inconsciente; João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata privilegiaram o “detalhe”, olhando para a Árvore de Jessé na Igreja de S. Francisco como mote para fazer dialogar os pormenores com a totalidade da obra de arte; João Salaviza recorreu ao instinto do olhar para, com a câmara de filmar, absorver o real e com ele potenciar as histórias; Filipa César provocou os participantes com leituras, permitindo um saudável debate entre as ideias e as imagens, sobretudo aquelas que são recuperadas dos arquivos; finalmente, Salomé Lamas, a partir do seu trabalho, mostrou como a memória histórica e a viagem pessoal são determinantes para fazer nascer um filme.
O percurso de cada um destes realizadores e artistas foi generoso e inspirador, permitindo aos participantes, mas também ao público em geral, dialogar sobre aquilo que nos impele a fazer nascer um filme, uma imagem ou uma instalação.
Igualmente importantes e inspiradoras foram as participações de Isabel Capeloa Gil, que nos questionou sobre o inconsciente tecnológico proposto pelo cinema; Haden Guest, que olhou para a obra de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata e para o seu lado metamorfoseador; Guilherme Blanc, que dialogou com João Salaviza sobre a dimensão urbana e generosa das suas histórias; Teresa Cruz, que evidenciou o lado do Outro na obra de Apichatpong Weerasethakul; Sabeth Buchmann, que marcou a dimensão política e pós-colonial dos filmes de Filipa César; e João Ribas, que marcou o lado de risco da obra de Salomé Lamas.
Procuramos, com estes diálogos e com estas projeções públicas, abrir a Summer School à cidade do Porto, oferecendo um programa cultural de alta qualidades e espalhado por diversos espaços, como o Cinema Passos Manuel, o Auditório da Fundação de Serralves, a Casa das Artes ou o Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
A Porto Summer School on Cinematic Art foi um sucesso, mas também foi apenas o início de um projeto de cinema e de criação artística que quer abalar a Escola das Artes.
Esta Summer School volta para o ano, com outro conjunto de artistas à procura desse gesto que chamamos arte cinemática.