Banho Maria

Igor Jesus

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Exposição de Igor Jesus na EA mostra iconografia do invisível

 

17 FEV 2022 – 14 ABR 2022
Curadoria de Nuno Crespo

Banho-maria é um nome que serve para descrever muitos procedimentos que vão desde a química, a processos industriais (farmácia, cosmética, etc.) até à culinária. Independentemente do âmbito da sua aplicação, banho-maria designa um processo de aquecer lentamente uma substância líquida ou sólida que está dentro de um recipiente que é colocado dentro do interior de outro recipiente fechado onde se liberta vapor de água. E é este vapor que aumenta a temperatura das diferentes substâncias com a especificidade de ser um processo muito preciso e exigente do ponto de vista do controlo dos diferentes elementos manipulados.

E é esta possibilidade de transformação alquímica, surpreendente e muito radical que interessa a Igor Jesus. Não lhe interessa inscrição no campo da alquimia, mas essa transformação serve-lhe como metáfora para se aproximar de um processo muito elaborado de relacionar e transformar imagens em sons, em escultura, em espaço.

A aproximação que o projeto Banho Maria materializa relativamente àquele processo alquímico deve-se a um entendimento que o artista tem vindo a desenvolver nas suas obras em que as imagens e os objetos artísticos são, sobretudo, modos de captar energias. Para este artista nunca se trata de representar uma coisa, uma pessoa, ou uma outra coisa qualquer, mas encontrar dispositivos que alterem energeticamente o mundo e, claro, os sujeitos que experimentam as suas obras. Uma experiência imersiva, porque cada projeto deste artista puxa-nos para zonas de experiência em que todas as forças humanas são ativadas: sensibilidade, imaginação, entendimento e razão (para fazer justiça a Kant e à matriz descritiva das forças que compõem a inteligência humana).

Isto não faz de Igor Jesus um artista xamânico, mas apresenta-o como alguém dedicado a identificar o que acontece nas zonas habitualmente inacessíveis ao olhar humano e onde só chegamos através de certos dispositivos como, por exemplo, uma câmara fotográfica. Por isso, neste projeto ele apropria-se do livro de imagens de H. Baraduc com o título muito sugestivo: The human soul. Its movements, its lights and the iconography of the fluidic invisible (1896). 

Independentemente do projeto preciso de construção de imagens aqui em causa – imagens produzidas através do contacto direto de um corpo com uma placa química para reduzir ao máximo a latência – o que interessava a este explorador do paranormal – que foi como ficou conhecido – era capturar através de instrumentos mais precisos que o olhar humano os sentimentos, os pensamentos, o que emana de uma alma humana, as suas energias. Baraduc nunca entendeu o seu trabalho como sendo fotográfico – que no seu tempo necessitava da intervenção da luz solar -, mas sim como uma muito especial iconografia dos fluídos invisíveis. E é precisamente esta iconografia do invisível que Igor Jesus toma em mãos e tenta transformar uma experiência simultaneamente visual, sonora e escultórica.

O interesse de Igor jesus pelo imaterial e pelos espíritos vem desde cedo no seu trabalho – pelo menos desde o vídeo My father died in the year I was born (2014) em que o artista realiza uma sessão espírita -, mas neste novo projeto o que o artista constrói é uma espécie de destilaria de imagens: as imagens dos fluidos de Baraduc são projectadas num ecrã, depois neste ecrã um conjunto de células fotossensíveis interpretam a luz emanada por cada imagem e transforma essa luz da projeção em som. Um processo de sonificação ou, se se preferir, de tradução do visível em audível.

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